Eu sempre tentei ser mais realista com tudo. E sempre tem alguém que fale que eu sou pessimista ou realista demais e acabo perdendo o bom da vida. Mas sinceramente, eu não ligo. Prefiro encravar os dois pés no chão e caminhar da forma mais tranquila e suave possível. Sim, tem dias em que isso me incomoda, me deixa pensando sobre “como poderia ter sido se eu tivesse feito diferente”. Mas logo vem a voz da consciência e se despede daquele pensamento corriqueiro e, aparentemente, distorcido da realidade.
Mas digamos que em um dia mais feliz, eu acorde e decida ser mais otimista em cada uma das minhas decisões. Todas as minhas conversas terão um “mas fica tranquila, tudo vai dar certo”, “Ah! Mas a gente precisa ter pensamento positivo”. Imagina se em momentos decisivos, eu acabasse prometendo algo que nem eu mesma posso cumprir, por um simples otimismo desmedido? Eu, definitivamente, não me sentiria bem em expressar sentimentos que não são reais ou que me comprometeriam e prejudicariam pessoas que fazem parte da minha vida. Nem mesmo um inimigo, afinal de contas, até esses precisam ser mantidos por perto.
Na semana passada descobri o projeto “The Science of Us” da New York Magazine, que explica de forma científica vários aspectos do ser-humano. E um dos vídeos de uma série lançada este ano, fala sobre o lado bom de sermos pessimistas e o lado ruim de sermos sempre otimistas. “Otimismo pode realmente contê-lo e um pouco de pessimismo pode ser uma grande ajuda”.
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E você pode acordar todos os dias tendo sempre o mesmo pensamento positivo, colar pelas paredes do quarto mil postits com frases de estímulo, ter aquele horário para ver vídeos motivacionais. Mas o que te alegra hoje, pode não ser o que te alegra amanhã e você vai acabar te fazendo perder tempo tentando se convencer de que vai dar certo, do que simplesmente agir para que as coisas realmente deem certo.
Você já deve ter ouvido falar daquela nova religião adotada por alguns: o Deboísmo. Com certeza tem aquele amigo “good vibes” adepto dessa filosofia que sempre prega o pesamento positivo a qualquer custo. O “ficar de boas” com os problemas. em contrapartida à essa nova onda, há os que se revoltem e sigam o “Tretismo”, adeptos do caos, da desordem, por achar que “deboar” é história de quem não quer resolver os próprios problemas. Não defendo, nem acuso nada, cada um tem seu lado bom e ruim. Mas se a intenção é reagir às adversidades que surgem, praticar o Deboísmo não será a melhor das opções.
É como propôs Fiódor Dostoiévski, ao convidar as pessoas a realizar o Desafio do Urso Polar. O desafio consiste em pedir que a pessoa simplesmente não pense no urso-polar. Mas inevitavelmente a imagem do urso vem a sua mente, mesmo que você esteja no meio do trabalho ou de uma conversa super animada. Agora imagina se esse urso polar são os seus problemas e você tenta evitar pensar neles porque, de alguma forma, você acha que ficar ressuscitando-os vai te impedir de de ser feliz e alcançar teus objetivos.
Mas além de se esconder do urso-polar, pensa em como você fica tenso e cansado de correr desse bicho tanto te perturba e acaba te trazendo mais dores de cabeça. Você fica mais ansioso, mais confuso e acaba se enfiando numa bola de neve sem fim e, por vezes, sem solução. Mentir para você mesmo não leva a lugar algum, apenas adia sonhos ou os tornam impossíveis. Você precisa admitir que problemas existem, que você tem falhas, mas que também possui qualidades que podem te ajudar a solucionar as merdas da vida.
Então se você tem dificuldades para alcançar seus objetivos, para e pensa se você tem sido otimista demais e pouco proativo. Tente ser mais realista, coloque no papel todas as suas falhas e suas qualidades, a autocrítica ajuda no processo de aceitação de quem você é. Por fim, trace um plano e sinta-se convidado a enfrentar essa realidade que tanto de incomoda. Independente do que venha a ser feito, faça algo com essa sua apatia diante de um problema.
No final das contas, o meio termo entre ser otimista e pessimista demais é apenas encontrar e entender a real realidade em que você se encontra e tentar aceitá-la.