Ao longo do tempo, de acordo com nossas experiências e relacionamentos, temos a tendência de sobrepor algumas ações e comportamentos, enterramos o que existe de mais genuíno do nosso ser para que as “coisas deem certo”. Essa busca por aceitação nos leva a modificar boa parte das nossas crenças, suavizar nossas descrenças e fantasiar um novo “eu” que se encaixe perfeitamente na fantasia de uma outra pessoa. Fatidicamente, o que era para dar certo, dá errado. E agora?
Em dado momento essas relações chegam ao fim, o que fica é uma sensação de vazio e perda da nossa identidade – identidade essa que foi construída para esse “encaixe social”, seja com alguém ou com um grupo. Em seguida, passamos por uma ebulição de novidades emocionais, que na verdade não são tão novas assim, pois já estavam lá guardadas, sendo suprimidas para a construção dessa identidade social, ou fantasia de aceitação.
Com o fim do relacionamento, ou relacionamentos, começamos a sentir que essa fantasia não é mais necessária, e começamos a retirar peça por peça, comportamento por comportamento, vontade por vontade. Desnudos de uma roupagem de desejos, jeitos e trejeitos que nunca foram nossos, encontramos alguém que a muito estava perdido. Sim, começamos a esquecer o personagem que construímos e começamos a conhecer a pessoa que sempre fomos. E efetivamente, quem sempre fomos?
Não gostaria de deixar aqui uma opinião fechada, que busca definir as coisas como certas ou erradas, mas quando você começar a esquecer, vai começar a perceber a pessoa linda que sempre foi, vai entender que se tiver que mudar uma outra vez para que “dê certo”, alguma coisa está completamente errada e que somente as coisas verdadeiras podem durar. Na verdade, a mentira nunca foi o caminho para coisa alguma, a não ser o caminho para o inevitável e triste fim.
Mas, e aí? O que você vai ser depois que esquecer?
2 Comentários
Ei, João.
Você trouxe aqui uma boa reflexão.
Há alguns anos, carrego comigo um livro chamado “Os Quatro Mandamentos”, escrito de acordo com a filosofia dos Toltecas. Ele aborda, de forma diferente, um pouco do que as “pressões sociais” fazem conosco, ocultando nossa essência.
Sempre penso em coisas assim também quando lembro de Kurt Cobain e sua famosa “Prefiro ser odiado pelo que sou a ser amado pelo que eu não sou”. Tenho um quadro dele com essa frase e me guio por ela diariamente. É um exercício constante e se desprender de amarras e sair dos personagens, mas eu tento fazê-lo. Existem algumas desvantagens, talvez pelo fato de “ninguém” querer que sejamos nós mesmos. Há sempre uma expectativa sobre o outro e um cerceamento geral da liberdade alheia. Por enquanto, optei por viver com essas desvantagens e ver no que dá…
Muito show Lari!
Fico feliz em ler seu pensamento nesse comentário. Realmente encontraremos barreiras e teremos desvantagens na escolha por nós mesmos, contudo, a certeza de ter escolhido até os problemas que virão, meio que compensam bastante essas durezas que iremos enfrentar. 😀