Eventualmente, cometemos o erro clássico de querer forçar a continuidade das boas sensações geradas em momentos ímpares. Sensações essas que tem muito mais a ver com uma sequência de acontecimentos, a composição da ocasião, do que realmente a pessoa, ou pessoas, com quem compartilhamos esses momentos.
Poderia apontar aqui vários prováveis fatores que levariam ao acontecimento desse fato. Contudo, apontarei um mais comum do que imaginamos: carência. Sim, eu disse carência! Nesse caso específico, transformamos a leveza do momento ou momentos vividos na necessidade de uma vida em função disso. E essa necessidade transforma algo bom, leve, em algo extremamente pesado, pois queremos forçar a resolução de uma carência bem específica com algo que não se encaixa.
O mais irônico é que não percebemos o quanto estávamos carentes. No instante em que acreditamos que estamos tão fortes, tão livres, tão desapegados, e assim, com uma fé inabalável, temos a certeza que não é possível estarmos carentes. E é aí que mora o perigo! Tentamos encaixar o que deveria ser “apenas” uma boa memória de uma noite, na nossa fantasia de amor pra vida inteira, e o pior acontece quando quem está do outro lado acaba por comprar essa fantasia, essa idéia.
Com duas conchas nas mãos,
Vem vestida de ouro e poeira
Falando de um jeito maneira
Da lua, da estrela e de um certo mal
Que agora acompanha teu dia
E pra minha poesia é o ponto final
É o ponto em que recomeço,
Recanto e despeço da magia que balança o mundo
De repente a mágica se acaba e começamos a nos perguntar por que não está dando certo. Quase sempre nosso primeiro pensamento culpa o universo, não consideramos “justo”, pois tinha “tudo” para dar certo. Será que tinha mesmo? Pois logo em seguida começamos a perceber muita coisa do outro lado que não nos agrada, logo colocamos na famosa “balança” das coisas boas e das coisas ruins, e parece que tem um “ser” completamente diferente do outro lado, um ser desconhecido.
O fim chega, e depois de um tempo isso era meio que previsível, pois qualquer tentativa diferente de fazer dar certo, dava errado. Depois de um tempo, durante ou depois do término, percebemos que nunca nos envolvemos de verdade com quem estava do outro lado, e nosso único envolvimento foi com a nossa necessidade de deixar de ser carente, de deixar de ser sozinho, solitário…é…solidão pesa.
Metade de mim
Agora é assim
De um lado a poesia, o verbo, a saudade
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim
E o fim é belo incerto, depende de como você vê
O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só
Mas o fim também é recomeço, e enquanto houver recomeço, também recomeçamos, como alguém novo, repletos de novas experiências, aprendizados. O fim é como o fim de uma rua, e amor que dura a vida inteira pode estar na próxima esquina, basta você entender o momento certo de virar, e com calma, leveza e até uma dose bem gostosa de carinho, entender o que é pra ser memória e o que é pra ser pra vida.
P.s: as canções citadas acima foram, respectivamente, A Bailarina e o Soldado de Chumbo e O Anjo Mais Velho, ambas de O Teatro Mágico.
1 comentário
Boa reflexão João!
Como sempre você manda muito bem…
Você mora no meu coração, tô com saudade!
Já falou para o Jonas que eu sou fã número 1 do Blog. 😀
Adoro os textos de vocês galera. Abraço em todos!