As melhores viagens são aquelas sem planejamento. Curtas, intensas e com as melhores companhias, mesmo que você vá sozinho.
Minha última semana fora do país caiu justamente na Semana Santa, quando não tinha nada pra fazer no Panamá, até porque já havíamos conhecido praticamente tudo. Eu e o Leonel, o “Guatemala”, resolvemos ir para Medellín, na Colômbia. Por quê? Porque sim. A intenção era viajar.
Chegamos lá e, claro, não tínhamos a mínima noção do que iríamos fazer. O Guate tinha alguns poucos locais na cabeça, mas não tinha ideia de como chegar. Resolvemos andar. Andamos uns 10km nesse dia, com um dos instrumentos mais efetivos de localização que existem: perguntando para as pessoas onde chegar a Pueblito Paisa, nosso primeiro destino.
Um tanto despreparados, sem água, sem comida e sem a mínima noção de segurança (por que isso não nos importava muito naquele momento), paramos em uma tenda para comprar água e acabamos conhecendo um senhor super educado, usando uma camisa da Seleção Brasileira. E é engraçado como, às vezes, aparecem pessoas que nos falam exatamente o que precisávamos ouvir no momento certo.
Meu espanhol já estava melhor, mas ainda estava pegando a manha de entender os variados espanhóis da “Latino América”. Manha suficiente pra entender a mensagem daquele senhor, que depois de falar sobre a ida do seu filho ao Brasil e de como ganhou a camisa da Seleção, engatou um papo sobre a maldade das pessoas, sobre como o mundo era visto de forma ruim e as coisas boas ficavam escondidas. E apesar de bom, o papo não durou muito para seguirmos nosso caminho.
No mesmo dia conhecemos um rapaz que nos daria algumas dicas de locais para ir. Pensávamos que ele apenas nos passaria algumas informações simples e pontos de referência, mas essa pessoa, que eu não lembro o nome e que não fez questão de saber o nosso, nos guiou a pé durante umas três ou quatro horas, debaixo de chuva, pelo simples prazer de nos apresentar sua cidade. Nos levou de um ponto a outro, apenas garantindo nossa segurança e conforto. E ao final, nos deixou no metrô, seguindo enfim o seu caminho.
Eu fico me perguntando quantas vezes já deixei de conhecer pessoas, de viver aventuras, de satisfazer desejos, pelo simples fato de colocar o medo na frente de tudo. Aquele senhor não sabia, mas me fez enxergar o quão grande é o culto às coisas negativas, um valor tão grande a uma coisa tão pequena e de efeitos tão nocivos à alma, que acabam se sobrepondo a todas as coisas boas e produtivas que existem no mundo.
Quantas vezes deixamos de ajudar alguém no meio da rua por achar perigoso, ou quantos vários amores e amizades deixamos de viver por medo de não valer a pena, por antecipar sofrimentos que talvez nem cheguem a se tornar reais. Quantas vezes já desisti das minhas aulas de bateria por achar que atrapalhariam minha carreira. Quantas vezes você já desistiu daquela aula de dança, de teatro, ou de cursar uma faculdade por medo de um futuro completamente incerto. Quantas vezes você desistiu de sair do seu emprego por achar que o mundo iria conspirar ao seu fracasso.
Por que tanto medo de arriscar? Por que tanto medo de errar? Por que tanto medo de acertar? Porque tanto medo do mundo?
Tudo é incerto e não quer dizer que vá dar errado. Mas se algo der errado, respeite seus ciclos e recomece-os sempre que nada mais fizer sentido.