Quando somos crianças, é natural inventarmos histórias e não sermos castigados apenas por sermos crianças. Por termos contado mentiras inofensivas e que, talvez, nem saibamos que são mentiras ou invenções que, de certa forma, aguçam nossa criatividade. Mas precisamos nos atentar para os valores morais adquiridos com esse tratamento, pois, por mais inofensiva que seja uma mentira, ela acaba afetando nosso comportamento enquanto adultos.
Por mais que nossos pais e a própria sociedade já tenham tentado nos ensinar o que é certo e errado, a partir de uma certa idade simplesmente não paramos de mentir. Mas não falo apenas das maldosas, falo daquela mentirinha branca, também. Aquela que nem nos damos conta de que é uma mentira, pois a informação apenas sai “sem querer”. E quando nos tornamos adultos, tais invenções se tornam tão voluntários que fazem parte das nossas conversas do dia-a-dia.
Há um tempo atrás, li o texto “IBGE derruba a tese preconceituosa de que ‘pobres fazem filhos para conseguir bolsa família’”. Fala sobre um estudo e contestação de uma tese criada por uma parte da população, de que a classe pobre brasileira estava estimulando o nascimento de mais filhos, para utilizar o Programa Bolsa Família como forma conseguir mais recursos do governo. A fonte ainda falava sobre critérios do próprio programa, que impediam a existência de tal fenômeno. Mas veja bem, não estou me atentando ao fato de esses critérios serem fiscalizados ou não, e sim ao fato de ter-se criado um fenômeno que não possui fundamentos, uma mentira sem pé nem cabeça.
Outro dia estava atravessando a faixa de pedestres e um senhor falava de uma cidade em que os motoristas respeitavam a faixa de pedestres e os sinais de trânsito. Não satisfeito, continuou dizendo que se você quisesse usar a faixa por aqui, corria sérios riscos de vida.
Eu fiquei me perguntando de onde aquele senhor havia tirado aquela informação. Ok, concordo que aqui em São Luís as pessoas não são tão educadas assim, mas daí a ponto de afirmar que corremos risco de vida? Onde estão esses dados? Existe alguma estatística que confirma a quantidade de mortes por uso da faixa de pedestres? Por que falamos e expomos acontecimentos irreais ou que não possuímos argumentações para confirmá-los?
Mas Dea, tu não tá muito dramática, não? Um mentirinha de vez em quando não faz mal nenhum.
Afinal de contas, quem nunca contou uma mentira que atire a primeira pedra e sinceridade demais prejudica, pois as pessoas não estão preparadas para ouvir a verdade o tempo todo. E isso, o jornalista alemão Jürgen Schmieder sentiu na pele, ao passar 45 dias sem filtros, falando todas as verdades que lhe vinham na cabeça e que relatou no livro “Sincero“.
Mas pensa comigo: você já parou para pensar se você mesmo acredita em 100% de tudo que sai da sua boca? Já se perguntou porquê você concorda com certos pontos de vista, mesmo não tendo nenhuma opinião formada sobre determinado assunto? Ou porque inventa certos fatos no meio de uma conversa?
Tente entender uma coisa: não existe uma maneira correta de nos posicionarmos em sociedade, nem o certo ou o errado realmente existem. Você não precisa se dispor à aceitação universal. Tente enxergar o caminho que mais se adéqua aos seus propósitos e a sua realidade.
Aceite que, independente de qualquer que seja a opinião das pessoas, não existem verdades absolutas, mas sim, perspectivas distintas. E que esses visões terão de ser respeitadas, pois precisamos e devemos defender a que mais se encaixa no que somos e na realidade que queremos construir.
Fato é, que nunca teremos uma verdade universal para basear nossos posicionamentos ou qualquer tomada de decisão. Precisamos considerar que existem situações diferentes envolvendo pessoas diferentes com necessidades diferentes, nos proporcionando visões diferentes sobre um único caso. E, mesmo assim, não podemos nos anular contando mentiras ou expondo um “eu” que não existe.
Então, tente se ouvir um pouco mais e escutar as verdades que você tem inventando por aí.
3 Comentários
Pensei em várias coisas ao ler esse texto.
Acho que eu jamais conseguiria passar 45 dias sem filtros porque prefiro não falar tudo o que vem à minha mente, rs. Além disso, eu exagero quando estou nervosa e acabo falando coisas “sem pé nem cabeça” como o senhor da faixa de pedestres…
Mas, meu primeiro pensamento, ainda no comecinho da leitura, foi de uma informação que obtive num perfil de Curiosidades. Segundo eles – que não apresentaram fontes – nosso cérebro tende a modificar nossas memórias ao sabor dos nossos desejos ou de outros fatores. Sendo assim, a gente estaria “sempre” mentindo. Hoje, tenho plena consciência de que não sei se todas as minhas memórias são reais e nem se tudo o que eu “lembro” realmente aconteceu! Liguei uma coisa na outra ai, mas sei que você entendeu 🙂
hahaha Entendi sim, Lari. E faz todo o sentido, acho que ninguém realmente lembrar com todos os detalhes tudo o que viveu, mas pela necessidade de falar algo, a gente acaba contanto histórias sem pé nem cabeça.
Mas eu fico me perguntando até que ponto isso é realmente saudável, porque eu fico me sentindo mal depois que cometo essas gafes hahaha Não sempre, mas fico
Acho que quando não existe maldade, a gente não precisa se penalizar. Digo, quando é deslize ou até algo dito no “calor do momento”, sem que causa dano ao outro 🙂