Quem me conhece sabe o quanto eu curto humor negro.
É, sou culpado disso bem aí. Minha cabeça é altamente qualificada para fazer piadas com coisas que ninguém mais faria e ainda consigo arrancar boas risadas. Para ficar mais claro, quando digo “humor negro”, embora tenha uma predominância de tragédias e coisas dolorosas em geral, também adiciono as piadas do “correto” politicamente incorreto. Sim, aí entram piadas com questões raciais, de gênero, da ordem da fé e tantas outras questões sérias que compõe nossa teia de percepção do que é social.
Com o tempo, muitas das coisas que citei no parágrafo anterior deixaram de ser engraçadas pra mim. Sério mesmo, embora a parte que significa humor negro em âmbito geral ainda vigore. Mesmo assim, quase que como um reflexo, vez por outra acaba saindo uma piada desse calão e sempre tem dois tipos de pessoas: as vitimas que foram servidas em um banquete sombrio de “ofensas corretas” mascaradas pelas gargalhadas do segundo tipo e de seus próprios sorrisos amarelos que tentam amenizar a dor das feridas causadas por uma “piada”.
Óbvio que essa reflexão foi desencadeada por uma puta ressaca moral depois de ter feito algo do gênero. E, deixo aqui a dica, mesmo que quase nunca tenha uma ressaca moral, quando tiver, procure se examinar para tentar saber o que realmente está errado. No meu caso claro que o errado era eu. Quando foi que o sorriso, instrumento de alegria e até instrumento que alivia a dor tornou-se algo que fere?
Ainda trocaremos muitas figurinhas sobre esse tema aqui no SoT. Mas gostaria de deixar a seguinte reflexão: crescemos com um hábito torpe de esquadrinhar as demais características que compunham nossos colegas, desde tempos de escola, e aprendemos a usá-las contra eles. Aprendemos que o sorriso pode ser um lubrificante social bem melhor que o álcool e que ainda pode amenizar muito da nossa dor. Então, se buscamos sempre diminuir nossa dor ou interagir em uma coletividade, por que usamos a dor do outro e a desvirtuação da interação desse como trampolim?
Com isso te pergunto: quão inofensivo é o sorriso que você provoca?